"Uma mulher caída no chão. Percebe-se que é o chão, porque se vêem pés à sua volta. A imagem não é nítida, mas percebe-se que a mulher é jovem - pelo corpo esbelto, pelo cabelo negro abundante e solto, pelo slip de corte moderno. Está semidespida - tem uma camisola cor-de-rosa ou vermelha de mangas compridas mas as pernas estão nuas, a saia ou as calças que devia ter vestidas estão por baixo do corpo, parecem ter-lhe sido arrancadas. A mulher está caída no chão e os braços tentam proteger a cara, que não se vê. A mulher que está no chão chama-se Dua Khalil Aswad, é uma iraquiana curda, tem 17 anos e está a ser morta à pedrada e ao ponatapé por ter tido uma relação com um homem da religião errada. Os pés que espreitam, os pés dos assassinos, são pesados pés de homens, vestidos de cinzento, que mataram a mulher de camisola vermelha, de cabelo solto, do slip de corte moderno, que protege a cara, que vai ser espancada e ponteada durante meia hora, que vai morrer com a cabeça esmagada por blocos de cimento, perante uma assistência de 1000 homens. O seu corpo vai ser depois lançado sobre um monte de lixo, onde irá ficar vários dias. Mais dias ainda demorará a história a chegar aos jornais. Muitos dos assistentes filmaram e fotografaram a cena, de perto, com telemóveis, para servir de exemplo, e os filmes e as fotos chegaram à internet. (...)"
"(...)Os pés pertencem, entre outros, aos tios e irmãos da vítima, que pretendem com este crime lavar a honra da família, ofendidada pelo comportamento "imoral" da rapariga. (...)O castigo tradicional de apedrejamento só existe oficialmente no Irão e no Afeganistão, mas ele é executado não oficialmente em muitos outros países islâmicos. Em muitos mais casos, o crime não passa pelo apedrejamento: a mulher acusada é simplesmente morta à pancada, queimada ou degolada. Tal como no caso de Dua Khalil Aswad, muitas vezes a rapariga é atraída a casa dos pais com promessas de perdão da sua conduta "imoral" (que pode consistir num namoro ilegítimo aos olhos do islão, numa noite passada em casa de uma amiga, no uso de uma mini-saia, num olhar lançado a outro homem ou mesmo no facto de ter sido violada) para ser morta pela família. Tios e irmãos desempenham com frequência o papel de carrascos. (...)" (in PUBLICO; Malheiros, J.)
Julgo que este pequeno excerto é suficente para libertar as palavras de frustração, raiva, injustiça, odeio... de qualquer mulher, e de qualquer homem digno de tal nome.
"(...)Os pés pertencem, entre outros, aos tios e irmãos da vítima, que pretendem com este crime lavar a honra da família, ofendidada pelo comportamento "imoral" da rapariga. (...)O castigo tradicional de apedrejamento só existe oficialmente no Irão e no Afeganistão, mas ele é executado não oficialmente em muitos outros países islâmicos. Em muitos mais casos, o crime não passa pelo apedrejamento: a mulher acusada é simplesmente morta à pancada, queimada ou degolada. Tal como no caso de Dua Khalil Aswad, muitas vezes a rapariga é atraída a casa dos pais com promessas de perdão da sua conduta "imoral" (que pode consistir num namoro ilegítimo aos olhos do islão, numa noite passada em casa de uma amiga, no uso de uma mini-saia, num olhar lançado a outro homem ou mesmo no facto de ter sido violada) para ser morta pela família. Tios e irmãos desempenham com frequência o papel de carrascos. (...)" (in PUBLICO; Malheiros, J.)
Julgo que este pequeno excerto é suficente para libertar as palavras de frustração, raiva, injustiça, odeio... de qualquer mulher, e de qualquer homem digno de tal nome.
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