Repetir a História?

Existem situações e acontecimentos da nossa recente actualidade que por vezes me transcendem e me condenam à minha insignificante condição como cidadã deste planeta, onde os nossos direitos são ilusões nas mãos de estrelas falsas elegidas por nós para palcos centrais das leis, factores e necessidades das nossas vidas.

E, recentemente, uma situação conseguiu transceder-me de um modo brutal. Julgo que todos nós temos uma lembrança recente, até mesmo aqueles que ainda não eram vivos, das consequências directas de situações e ideologias homofobicas, racistas e discriminatórias dos direitos humanos. Contudo, até mesmo um dos países que se viu directamente "domado" por estas "legislações", surge agora com penteados e palavras neo-nazis, discursos completamente revoltantes e anti-direitos humanos.

Esta situação verifica-se actualmente na Polónia. Com a súbida dos gémeos ao governo, os gémeos Kaczynski, deu-se lugar a uma "refundação Moral" da sociedade poláca, que inclui:

- a tentativa de introdução do criacionismo cristão nos curricula científicos polacos;

- a crença de que a Igreja Católica deve ter um papel central no governo (tendo sido recentemente realizada uma coligação governamental com o partido LPR - Liga das famílias polacas, extrema-direita ultra-católica);

- a suspeita do capital estrangeiro e de estrangeiros em geral;

- a xenofobia politicamente incentivada contra alemães e russos;

- a desconsideração por casais divorciados (ao ponto de terem cortados apoios financeiros a associações de planeamento familiar, de apoio à prostituição);

- a punição dos homossexuais e perseguições por parte da Polícia, que chegou mesmo a invadir Associações e Bares conotados com o Movimento gay polaco, tendo mesmo membros do parlamento afirmado que «Se uma pessoa tentar 'contaminar' outras com a sua homossexualidade, o Estado deve intervir contra tal entrave à liberdade.»;

- a defesa da "normalidade" familiar e dos valores tradicionais polacos;

- a confusão propositada por parte de membros do governo de homossexualidade com pedofilia;

- a limitação de direitos sociais das mulheres e a guerra ecónomico social encetada contra associações de apoio a mães solteiras, assim como o ataque a toda e qualquer forma de casamento que não a "moralmente correcta", acabando por reduzir a mulheres ao papel de que se libertaram ao longo da História como altênticas máquinas parideiras;

- procura restabelecer a pena de morte para crimes ditos "morais";

- a perseguição judicial de jornalistas que façam referências "menos dignas" ao catolicismo............

De tudo isto, e do muito mais que me parece estar para vir. Contudo, não vejo as entidades governamentais muito preocupadas com esta espécie de resurgimento dos ideais que dominaram as décadas de 30 e 40. Não vejo manifestações de indignação perante esta "início" de discriminação dos direitos humanos e opressão da dignidade humana.

Afinal, quem tem a lata ou falta de respeito de apresentar na Constituição Europeia uma Carta dos Direitos das nações europeias que defenda como valores essenciais da UE, a identidade nacional, a proibição absoluta do aborto (inaceitável mesmo quando está em risco a vida e a saúde das pecaminosas Evas) e da concessão de quaisquer direitos a homosexuais, a que chamou «propaganda homossexual», não poderá repetir de novo a História?