domingo, dezembro 17, 2006

A merda do esquecimento...ou não...

Tantas vezes nos recriminamos pelas falhas na nossa memória que nos esquecemos que esquecer também é humano. E porque é humano, deveríamos talvez acolher com carinho esta nossa capacidade de esquecermos certas coisas, e que nos torna tão humanos e especiais.
Se calhar, para os humanos, é necessário esquecer para aprender e quem nada esquece, pouco ou nada aprende...
Se o conhecimento humano é geralmente uma verdade constituída por verdades e mentiras, então se calhar é necessário mesmo mandar para as urtigas parte desse mesmo conhecimento, para arranjar espaço para o que realmente interessa, não havendo razão para grandes temores, porque o que é verdadeiro jamais se perde.
O esquecimento representa o renascimento. É a oportunidade de olhar para o mundo com novos olhos que anseiam por reaprender o que foi esquecido, mas com uma nova perspectiva; a perspectiva vivida pela pessoa que já conheceu uma faceta de uma realidade e que precisa de esquecer-se de determinados pormenores para ter a mente livre para ver novos pormenores de uma realidade que já não é a mesma vivida no passado.
Diz-se ao começar uma nova vida (reencarnação), a pessoa se esquece das vidas passadas, justamente para poder ver a vida com olhos isentos de vícios e preconceitos, valendo-se apenas da sua essência (repleta de uma sabedoria e ignorância resultante da sua evolução ao longo de várias vidas) para encarar a novidade da vida terrena, em que tudo se apresenta como novo a um espírito repleto de história, que embora não sabendo quem foi, consegue perfeitamente perceber de que massa é feito. Todos nós somos diferentes e únicos, pois somos produto da nossa evolução e aí reside o nosso valor.
O homem é como uma montanha sujeita aos elementos, formada e torcida pelas forças tectónicas, cortada e erodida pelo vento e pela água, alterada pela alquimia da natureza. A montanha que observamos é a verdadeira memória de tudo aquilo pelo qual ela passou; tudo o que lhe aconteceu, tudo o que viveu, está rigorosamente gravado na sua forma actual. Da mesma forma, todos nós somos o produto da nossa evolução. Mais importante do que nos lembrarmos de tudo o que nós já fomos e de tudo o que já nos aconteceu, é olharmos para nós e percebermos o que somos hoje, e só aí, recordaremos verdadeiramente o nosso passado e todas as futilidades e enganos que um dia quisemos reivindicar como o nosso "querido" conhecimento, no caminho humano para a verdadeira sabedoria...

1 comentário:

Joel Bavaco disse...

Esquecer para aprender, a substituição das coisas velhas pelas novas...tabula rasa (tabua rasa, limpa)...aprender de novo tudo não será também uma forma de criar uma vida nova e não ser o mesmo sempre que se "volta" a este mundo? Não será uma necessidade do homem para quebrar uma certa rotina de pensamento? Imaginem se por exemplo Hitler reencarnado tivesse as mesmas ideias, todo o mundo tivesse as mesmas ideias desde o tempo dos gregos, romanos, D. Afonso Henriques...Esquecer é então não apenas uma forma de evolução individual mas de todo o Mundo...
Bem-vindo Berserker, excelente post inicial